A recém-instalada Comissão da Verdade vai ter de se debruçar sobre diversos casos ainda nebulosos, mas deverá analisar também um processo há muito considerado encerrado. A seção mineira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG) quer uma nova investigação sobre a morte de Juscelino Kubitschek e, para isso, enviará nos próximos dias à comissão os documentos do caso.
JK morreu aos 73 anos, em agosto de 1976. Segundo a versão oficial, ele foi vítima de um acidente na Via Dutra, em Resende (RJ), depois de o motorista Geraldo Ribeiro perder o controle do Opala no qual transportava o ex-presidente e bater em um caminhão na pista contrária. Na ocasião, a culpa caiu sobre Josias Nunes de Oliveira, motorista de um ônibus da Viação Cometa que teria feito Geraldo perder o controle do carro. Geraldo foi absolvido em dois julgamentos e, para familiares e amigos, o mistério permanece.
Agora, a OAB-MG quer que o caso seja devidamente esclarecido. O Estado teve acesso às 2.629 páginas que compõem o processo com a investigação da morte e que serão encaminhadas à Comissão da Verdade. E são nessas páginas que estão diversos 'furos' dos responsáveis pelas investigações, segundo o advogado William Santos, da comissão de direitos humanos da OAB-MG. 'Queremos que seja tudo refeito. Vamos mandar o processo e outras peças para mostrar a farsa.'
Entre as peças estará um depoimento do secretário particular e amigo de JK, Serafim Jardim, de 76 anos. Ele recebeu o Estado em seu escritório em Belo Horizonte e, logo de início, também classificou a investigação do acidente como uma 'farsa total'. Depois de 20 anos de luta, Jardim conseguiu, em 1996, que o caso fosse reaberto, mas a nova investigação chegou à mesma conclusão da apuração original.
Fragmento de metal. Porém, um laudo feito a partir da exumação do corpo de Geraldo no Cemitério da Saudade, em Belo Horizonte, revelou um fragmento de metal 'de forma cilindro-cônica, medindo sete milímetros de comprimento e diâmetro médio de dois centímetros' no crânio do motorista. A exumação foi feita no Instituto Médico Legal (IML) da capital mineira, mas a Polícia Civil descartou a possibilidade de o fragmento ser de um projétil. 'Disseram que era prego de caixão', comentou Jardim.
A OAB afirma ainda que os responsáveis pelas investigações colheram o depoimento de apenas nove passageiros do ônibus - e nenhum deles confirmou a versão da colisão com o Opala -, sendo que havia 33 pessoas no veículo além do motorista. As fotos dos corpos do presidente e do motorista também desapareceram da documentação, diz a entidade. 'Esse processo é uma incoerência do início ao fim', avalia Santos. Ele lembra que um eventual crime que tenha ocorrido já está prescrito desde 1996, mas salienta que o caso precisa ser esclarecido. Jardim diz que deposita na comissão a esperança de 'corrigir a história'. Os delegados responsáveis pelas ivestigações não foram localizados.
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