terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Juscelino foi vítima de conspiração, diz relatório da Comissão da Verdade de São Paulo


10/12/2013 - 18h45
Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – A Comissão da Verdade Vladimir Herzog, da Câmara Municipal de São Paulo, apresentou hoje (10) relatório que contradiz a versão oficial da morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, na qual consta que ele foi vítima de um acidente de carro. Segundo as investigações da comissão, Juscelino foi vítima de uma conspiração durante o período da ditadura militar, e sua morte foi planejada. O ex-presidente morreu em um acidente no dia 22 de agosto de 1976, na Rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro.
Conforme o relatório sobre as circunstâncias da morte do ex-presidente, o motorista de Juscelino, Geraldo Ribeiro, estava debruçado, com a cabeça caída entre o volante e a porta do veículo, quando o carro perdeu o controle em uma curva e bateu na frente de uma carreta. O relato foi feito pelo motorista aposentado Ademar Jahn, que conduzia um caminhão igual ao do amigo Ladislau Borges, no qual o carro bateu.
O acidente ocorreu cerca de três minutos depois que Juscelino e Ribeiro deixaram o Hotel-Fazenda Villa-Forte, do brigadeiro Newton Junqueira Villa-Forte, um dos criadores do Serviço Nacional de Informações (SNI), em Engenheiro Passos, Resende, no Rio de Janeiro. O automóvel ia no sentido Rio de Janeiro, quando houve o acidente. Em depoimento na Comissão da Verdade, Josias Nunes de Oliveira, motorista do ônibus da Viação Cometa, que ultrapassou o Opala antes da batida, contou que, logo depois, o carro de Juscelino surgiu pela direita do ônibus, ultrapassando-o em velocidade excessiva e com manobra arriscada, descontrolado e desgovernado.  
Além desses relatos, a Comissão da Verdade encontrou indícios de que os laudos de perícia do acidente e dos corpos das vítimas foram alterados. Um dos motivos pelos quais a comissão acredita nisso é o fato de o perito criminal Alberto Carlos de Minas ter dito que foi impedido por policiais e agentes de Estado de fotografar o crânio de Geraldo Ribeiro durante a exumação da ossada, em 14 de agosto de 1996. O perito contou que viu um furo no crânio de Ribeiro, com características de perfuração por projétil, e que foi ameaçado para não vincular o acidente a um atentado político.
Há também relatos sobre um objeto metálico dentro do crânio, que os agentes disseram ser um prego do caixão.
O relatório mostra ainda que peritos foram substituídos, testemunhas sofreram ameaças e tentativas de suborno e que houve denúncias de que um tiro foi disparado de um automóvel emparelhou com o Opala. De acordo com o relatório, testemunhas não foram procuradas para contribuir com as investigações na época e houve denúncia de que os telefones de Juscelino e de pessoas ligadas a ele estavam grampeados e, por isso, agentes do governo militar sabiam de todos os seus passos. Além disso, traz relatos da própria família do ex-presidente, que tinha informações sobre as suspeitas de assassinato.  
O presidente da Comissão Municipal da Verdade, Gilberto Natalini, disse que o documento é oficial e será encaminhado às principais autoridades do país para que essa versão seja assumida como a verdadeira história do Brasil. “Se estiverem vivos, os que fizeram têm que ser punidos. Ninguém pode matar e ficar impune. O crime prescreve com 20 anos, mas há alguns que defendemos que não seja assim, e esse foi um assassinato cruel de um dos presidentes da República mais queridos pelo povo.”
Natalini ressaltou que vários pontos do relatório são relevantes e indicam que o documento deve ser acatado pelas autoridades como a versão verdadeira da morte do ex-presidente. Entre esses pontos, ele destaca o depoimento do motorista que vinha atrás da carreta em que o carro bateu. “Temos vários outros pontos relevantes, mas o orifício no crânio do motorista, que foi visto pelo perito, é importante; o fragmento de metal que estava no crânio ser descrito como prego do caixão. Como pode um prego ir parar dentro do crânio? Nós não acreditamos nisso. E [havia] toda a conjuntura política do Brasil, com Juscelino indo para uma candidatura indesejada por muitos.”
O vereador disse esperar que as autoridades entendam que o trabalho foi sério, porque a comissão enviará uma quantidade enorme de provas de tudo o que está escrito no relatório. O documento deve ser enviado para a presidenta Dilma Rousseff, entre outras autoridades. “Vamos aguardar o relacionamento com as autoridades federais, que têm autoridade legal para fazer essa mudança. Nós temos autoridade moral pela forma como conduzimos a investigação”, concluiu Natalini.
Edição: Nádia Franco
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Comissão Municipal da Verdade de São Paulo conclui que JK foi morto pela ditadura
 
Do UOL, em São Paulo

  • Ex-presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961) em foto oficial Ex-presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961) em foto oficial
A Comissão Municipal da Verdade de São Paulo concluiu que não restam dúvidas de que o ex-presidente da República Juscelino Kubitschek, morto em um acidente de carro em 1976, foi assassinado pela ditadura militar.
Amanhã (9), o vereador Gilberto Natalini (PV), presidente da comissão, apresentará relatório que, de acordo com ele, contém mais de 90 provas e indícios de que JK foi vítima de um atentado planejado pelos militares em 22 de agosto de 1976, quando o ex-presidente viajava pela rodovia Presidente Dutra, perto do município de Resende (RJ).
"Não temos dúvida de que Juscelino Kubitschek foi vítima de conspiração, complô e atentado político", disse Natalini.
O documento baseia-se nos depoimentos de ao menos quatro testemunhas à Comissão da Verdade da cidade de São Paulo, entre elas Josias Nunes de Oliveira, motorista do ônibus Cometa que bateu contra o Opala dirigido pelo ex-presidente.

Testemunhas dizem que JK foi assassinado

Em 1964, com o golpe militar, Juscelino perdeu o mandato de senador por Goiás e teve direitos políticos suspensos.
Em 1966, JK tentou organizar uma frente pela redemocratização do país, junto com Carlos Lacerda e João Goulart, mas não voltou mais ao poder. Afastou-se da política e dedicou-se ao trabalho como empresário.
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