terça-feira, 17 de março de 2009

A lição de JK (Sebastião Nery)

Depois de tensas horas trancados, numa reunião dramática, até a madrugada, ainda lembro da cara emburrada, de boi chuchado, de Benedito Valadares, cabeça baixa, humilhado, pálido, saindo lá de dentro derrotado, pela primeira vez, numa votação do partido. Por um voto.

A candidatura de Juscelino a presidente da República em 1955 dependia, para nascer, daquela reunião da Executiva Estadual do PSD de Minas, em 1954. Benedito, chefe do PSD mineiro, morria de medo dos militares e não queria Juscelino de jeito nenhum.

Afinal, em 10 de fevereiro de 55, dos 1.925 delegados da convenção nacional, 1.646 aprovaram a candidatura de JK. Contra, unânimes, os diretórios de Pernambuco (Etelvino Lins), Santa Catarina (Nereu Ramos), Rio Grande do Sul (Perachi Barcellos) e 160 da Bahia (Antonio Balbino).
União nacional

Juscelino viajou o País visitando o PSD. Desceu na Bahia, Antonio Balbino, governador, estava em cima do muro:

- Qual é a verdadeira posição do Café?

- Qual deles, Balbino? O vegetal ou o animal?

Em Pernambuco, Etelvino propôs a união nacional.

- Etelvino, quando você fala em União Nacional está pensando em União Democrática Nacional.

- Então você não quer a união?

- Ora, Etelvino, candidato não faz união. Candidato disputa. Quem faz união é governo, depois de empossado.
O medo

Em 27 de janeiro, a "Voz do Brasil" tinha divulgado documento levado por Juarez Távora a Café, em que "militares apelavam para um candidato único e civil". Juscelino respondeu com seu discurso histórico:

- "Deus me poupou o sentimento do medo".

Em 31 de março, com João Goulart (PTB) como vice, deixou o governo de Minas com o vice Clovis Salgado, do PR, e saiu pelo País inteiro pregando o Desenvolvimento com o seu Plano de 30 Metas (depois, 31, com Brasília) e prometendo 50 anos em 5.

Em 3 de outubro, 3 milhões de votos (36%), Juarez 2 milhões e meio (30%), Ademar 2 milhões e 200 (26%), Plínio 700 mil (8%).

Democracia é isso. O resto é torta de ditadura.
Aécio

Aécio Neves continua sem aprender a lição de JK. Disse em Minas:

"Por não viver a polarização paulista, talvez eu seja capaz de fazer um governo de união nacional em torno de uma agenda".

1 - "Ele se considera em melhores condições que o governador José Serra de fazer acordos políticos no Rio e no Nordeste. Minas teria um discurso de integração regional para o País." (Merval Pereira,"O Globo").

2 - "Aécio começará a partir de hoje a viajar pelo País para tentar convencer os tucanos de que a sua pré-candidatura tem consistência e potencial de crescimento. Vai primeiro a Recife." ("Folha")

Falta perguntar ao povo brasileiro se quer o Brasil uma Minaszona.
Reeleição

Merval, domingo, estava inspirado (para o bem e para o mal):

"Por uma série de razões (sic), a proibição de reeleição imediata dos presidentes (e governadores) começou a ser revogada em nossa região (América Latina) a partir de meados da década de 1990: no Peru, em 1993, na Argentina, em 1994, no Brasil, em 1997, e na Venezuela, em 1999".

Merval acha que isso aconteceu "por uma série de razões". Modéstia do orador, Merval. Aconteceu "por uma série" de oportunistas e aproveitadores. Demos os nomes. História sem nome é novela.

- No Peru, Fujimori. Na Argentina, Menem. No Brasil, Fernando Henrique. Na Venezuela, Chávez. Pode trocar um pelo outro.
Dirceu e Cunha

José Dirceu e Eduardo Cunha estão em grandes páginas vadias dos jornais, vendendo o que não têm para entregar. Dirceu vende o PT, Cunha vende o PMDB. Um insinua que ainda tem o Mensalão. O outro acha que ninguém resiste a seu Mensalinho.

Os dois são os Zeca Pagodinhos de seus partidos: todo mundo fala mal, mas acaba bebendo a cerveja que ele vende.

E assim vão os dois fazendo a praça, cada dia mais parecidos fisicamente, até nas carecas bem cuidadas. E o dinheiro público que pague.
Deda

O vice-procurador-geral-eleitoral, Francisco Xavier, em parecer para o Tribunal Superior Eleitoral, diz que o Encontro Nacional de Novos Prefeitos e Prefeitas, em 10 e 11 de fevereiro em Brasília (por acaso, por coincidência, por sorte, aniversário de fundação do PT...) em que o governo federal gastou um mínimo de 3 milhões de reais, "não caracterizou compra de voto (sic) por parte dos petistas" e por isso os discursos escandalosamente eleitorais de Lula e Dilma não podem ser considerados campanha política e assim não teria sido violada a legislação eleitoral.

Essa é a tragédia da Justiça. O regional quer ser nomeado federal. O procurador, ministro. E todos querem ir para o Supremo, nomeados pelo Planalto. Quero ver o TSE julgando o processo do governador Marcelo Deda, do PT de Sergipe, depois que condenou os da Paraíba e Maranhão.